sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Comunicação

Nasci no seio de uma família numerosa, simples, mas onde fui sempre muito acarinhada. A primogénita e primeira neta do lado materno.

Cultivei desde cedo o deslumbramento pela comunicação e interacção  com os outros, o que comprometeu logo nos primeiros anos o meu percurso escolar, já que, não raras vezes fui chamada a atenção, nas aulas, por falar mais do que devia, não obstante este pequeno percalço se vir a revelar mais tarde uma mais valia e uma ferramenta de extrema utilidade e que ainda hoje utilizo como uma das minhas bases de trabalho, para além da minha formação académica.

No meu contacto diário com as pessoas apercebo-me das suas vulnerabilidades, solidão, mas também da sua rudeza, soberba, arrogância, falta de educação e necessidade de auto afirmação.

Tenho por principio, não obstante ter funções, que me permitiriam enfiar-me um dia inteiro num gabinete, interagir com o público, porque como já dizia a minha avózinha para saber mandar é preciso saber fazer e quando o cerco aperta há que arregaçar as mangas.

Certo é que as histórias são muitas e deparo-me com situações de todo o tipo, desde a senhora histérica, que acha que por começar a gritar vai ter o que  quer, porque o que ela diz é que está certo e nós somos uma cambada de imbecis, ou então "Eu sou Professor Universitário e tenho mais que fazer do que estar aqui à espera, porque tenho que ir dar uma aula".

E depois temos as derradeiras situações, que nos deixam sem palavras e que nos fazem acreditar que vale a pena continuar e que estamos no caminho certo, como a que a passo a descrever.

Certo dia, foi-me encaminhado um jovem, visivelmente consternado e que necessitava, dadas as circunstâncias pessoais, de ser atendido de imediato, no entanto ainda tinha pela frente pelo menos uma hora de espera. Face à sua situação, expliquei-lhe que o máximo que poderia fazer, seria expor a sua situação publicamente e apelar ao bom senso dos restantes utentes para que o deixassem ser atendido, o que veio de facto a ocorrer.

Passado uns meses fui chamada para me dirigir ao balcão porque estaria uma pessoa a aguardar para falar comigo. Quando me aproximei vi o mencionado jovem, que me perguntou se me lembrava dele, não o tendo, confesso, de imediato, reconhecido.

 Mencionou o episódio passado e com emoção perguntou-me se me podia dar um beijo como forma de agradecimento por tudo o que tivera feito por ele, naquele dia e que continuasse a ser a boa pessoa que era, que sem o conhecer de lado nenhum o tentei ajudar.

Confesso que os meus olhos raiaram por momentos e por instantes esqueci muitas das insolências que tanto eu, como todos aqueles, que comigo trabalham, ouvimos por vezes, quando, na verdade, o que tentamos é dar o melhor de nós.

Esmy

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