Caminhei sem rumo certo, completamente alheada do mundo, das cores vibrantes do verão, dos ruídos e do perfume delicado das flores. Não via, por quem por mim passava e sorria, aliás o meu corpo não estava ali, todos os meus cinco sentidos se tinham ausentado e caminhava sonâmbula, como se o trajeto estivesse gravado no meu cérebro.
Nada, nem ninguém me fazia sair do estado de transe, em que me encontrava, e isto porque, outra alternativa não me restava, sob pena das dores dilacerantes do meu corpo e da minha alma se voltassem a revelar e não me dessem descanso.
Queri-as esmagar, estrangula-las com toda a energia que ainda contivesse dentro do meu ser, até que acordei, por fim, sentada na areia de uma qualquer praia, completamente encharcada pela revigorante água do mar.
Levantei-me e entrei mar adentro para não mais voltar, enquanto o meu corpo se ressentia com a força das ondas, e eu me deixava levar pela profundidade e me transformava, como num sonho, numa sereia de cores brilhantes.
Sentia-me finalmente livre do inferno terreste, em forma desenhada de suposto humano, que me engolira a confiança, a verdade, a honestidade, a pureza, o amor, a delicadeza e acima de tudo a esperança.
Esmy